Pobre gasta 53,9% da renda com imposto
Segundo o Ipea, pobres trabalham 197 dias por ano para pagar tributos
Adriana Fernandes, BRASÍLIA
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De acordo com a pesquisa, em 2004, as famílias mais pobres gastavam 48,8% da renda com impostos. Em 2008, o custo subiu para 53,9% - um salto de quase cinco pontos porcentuais em quatro anos. Já para as famílias mais ricas, o peso dos tributos cresceu menos. Subiu de 26,3% para 29%.
Segundo o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, um dos motivos para esse quadro de injustiça é o grande número de tributos indiretos. "A experiência dos países desenvolvidos aponta a importância da elevação dos tributos diretos, dos impostos sobre a riqueza, e a redução dos impostos indiretos que incidem sobre o consumo básico, alimentação e transporte", disse.
Pochmann reconheceu que as isenções tributárias de mais de R$ 100 bilhões dadas desde o início do governo pouco alteraram o quadro. Pelo contrário, só pioraram. "Pelas informações que nós dispomos, há um aumento da regressividade e injustiça tributária. As isenções pouco alteraram o quadro que já é reconhecido no Brasil", disse.
Os novos benefícios tributários concedidos pelo governo Lula para enfrentar a crise financeira podem ainda agravar a situação porque se concentram no investimento. E, mesmo quando voltadas para o consumidor, as desonerações tributárias alcançam produtos mais caros, como automóveis, que não são comprados pelas faixas de renda mais baixas.
O economista Amir Khair, especialista em tributação, diz que a redução de tributos indiretos, como o Imposto sobre Produto Industrializado (IPI), por exemplo, tende a reduzir a regressividade do sistema tributário, mas ponderou que isso depende do produto beneficiado. "Não vejo com bons olhos o estímulo que o governo está dando à indústria automotiva. Melhor seria desonerar a contribuição dos trabalhadores ao INSS", afirmou.
Pochmann, no entanto, pondera que a desonerações adotadas contra a crise têm caráter emergencial. "Pior do que sofrer injustiça tributária é não ter renda", argumentou.
Outro fator que pode estar contribuindo para agravar a injustiça tributária é a constatação de que empresários não têm repassado todo o ganho com isenções para o consumidor, motivo do desabafo, na semana passada, do presidente Lula. O presidente disse que dar dinheiro aos pobres é mais eficaz do que reduzir impostos das empresas.
O levantamento do Ipea aponta ainda que os brasileiros que não possuem propriedade pagam uma carga tributária 78,1% superior à dos proprietários. "Ser proprietário no Brasil é ser beneficiado pelo sistema tributário", disse Pochmann.
GASTO
O Ipea também fez uma radiografia de como o governo gasta os tributos recolhidos, tomando por base alguns dos principais itens da despesa pública. Segundo a classificação usada pelo Ipea, a maior parte vai para o pagamento de juros da dívida da União, Estados e municípios. Os brasileiros gastaram, em 2008, 20,5 dias de trabalho para pagar os juros da dívida pública. Já o programa Bolsa Família, do governo federal, custou 1,4 dia. Os brasileiros precisaram de 16,5 dias de trabalho para pagar as aposentadorias e pensões da área urbana. As aposentadorias dos servidores do Executivo, Legislativo e Judiciário custaram 6,9 dias.
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